|:| Corpus Compartilhado Diacrônico: cartas pessoais brasileiras |:| Célia Lopes {celiar.s.lopes@gmail.com} e Silvia Cavalcante {silviare@gmail.com} |:| Carta 04-AA-25-03-1911D |:| Autor: Eurico |:| Destinatário: Alarico Land Avelar |:| Data: 25 de março de 1911 |:| Versão modernizada |:| Encoding: UTF-8 SÃO PAULO , 25 DE Março de 1911 Prezado Irmão , Desejo-te saúde e felicidade . - Domingo estive aí a negócio urgente , voltando no mesmo dia a noite e por isto não pude procurar-te . Participo-te que a dias escrevi a Papai uma carta a respeito da vinda de Guga para São Paulo a fim de iniciá-lo na carreira comercial , aproveitando a sorte invejável que lhe tocou de entrar para a casa de uma próprio irmão onde estará com o futuro garantido e sem passar pelos dissabores que todos tem de passar nos primeiros anos nesta carreira . Em resposta recebi a carta que te envio e que deixei de responder porque como v~es est eles ainda não compreendem o alcance do negócio e a importância que tem este fato com a vida e o futuro do menino . Pelo que Papai me escreve dá claramente a entender que eles só se dispõem a mandar o Guga em condições de ordenado iguais as que ele tem agora . Ora isto é um absurdo porquanto todos nós sabemos que se ele está ganhando este ordenado deve unicamente as suas / relações com o Weinshenck e a prova esta o Guimba que nada tem conseguido por estar aí sozinho . Como pois pretender a mesma coisa aqui ? O Bebeto quanto ganhou nos primeiros meses ? Depois não se pode confundir um emprego no comércio em casa de um irmão e em uma praça de futuro como a de São Paulo com um emprego de Companhia onde o sujeito sai sabendo unicamente o serviço daquela companhia e em caso de estar um dia despedido tem de começar de novo , o que não acontece com o empregado do comércio que acumula , hora a hora , dia a dia , mês a mês e ano a ano um CAPITAL precioso que é a prática de um ramo de negócio . - Despedido de uma casa , entra imediatemente para outra com igual ordenado e quase sempre maior . - Devo dizer-te que assim te escrevo em vista do que me dissestes a pouco tempo , que o Edgard aí nenhum futuro podia almejar , nem mesmo o de um bom emprego , e que ias colocá-lo no Darsworth . - As observações de Papai não tem cabimento , falando em necessário para vestir , calçar e comer e médico . Ora é claro que se ele vier para cá a meu chamado não vai andar nu nem descalço , nem passar sem comer ou morrer por falta de médico . - Tudo isto está claro que se ele não ganhar bastante eu terei de dar , no que nada vejo de extraordinário. - Os meus sócios são pessoas distintas e muito cordatas porém isto não é motivo para mim abusar , pois ninguém melhor do eu conhece o comércio e não posso pretender para mim ou para um irmão ou parente aquilo que não admitia que dessem a outro protegido de um sócio meu . E claro que esta situação é somente nos primeiros tempos , o Edgard é vivo e trabalhador e logo que entrar na posse do serviço e tiver prática dos artigos a coisa muda inteiramente de figura . - Aí serei eu o primeiro a fazer ver aos outros o merecimento dele a recompensar-lhe o trabalho de formas que ele não me pese e possa ainda realizar suas / economias . - Aqui temos 3 empregados um que ganhava 200$ com o Isnard e que vai receber agora 300$ por merecimento , UM de 15$$000 e outro de 120$000 todos empregados antigos e com prática . Ora quanto poderei dar ao Guga nos primeiros meses ? - Já não é pouco os meus sócios consentirem na entrada dele , coisa que eu não faria , pois não tendo eles prática do negócio deviam procurar pelo menos ter empregados independentes e não dependentes de mim que sou o único que tenho prática e serro sempre de cima . Acho bom você tratar logo disto pois precisamos admitir aqui um menino para ajudar serviços de escritório , recados etc . e de repente algum de meus sócios lembra . - se de um [pag] afilhado . Teu irmão e amigo Eurico