|:| Corpus Compartilhado Diacrônico: cartas pessoais brasileiras

|:| Célia Lopes {celiar.s.lopes@gmail.com} e Silvia Cavalcante {silviare@gmail.com}



|:| Carta 21-AA-29-11-1915D

|:| Autor: Alarico Land Avelar

|:| Destinatário: Julio Avelar

|:| Data: 29 de novembro de 1915

|:| Versão modernizada

|:| Encoding: UTF-8



Rio de Janeiro , 29 de Novembro de 1915



Prezado Pai .



Acuso a sua carta de ontem e bem assim das flores que teve a idéia de me mandar , e pelas quais fico muito obrigado .



Nós vamos passando sem novidade maior , apesar do calor já estar entrando furioso ; hoje , ás 8 horas da manhã , no Escritório , o termômetro marcava 28 .



Senti saber que Mamãe não tem passado bem ; que tem ela ? ; o Moreira já a examinou ? ; o que disse ? .



É exato que há mais de 15 dias não lhes escrevo , mas para que hei de eu escrever-lhes para lhes dar aborrecimentos dos que ando cheio a mais não poder ? ? ?



Como se já não bastasse os que não posso evitar , por não estar em minhas forças demovê-los , e não falando mesmo nos que se prendem aqui á Cantareira - maiores agora 

depois que o Senhor Miller embarcou para Londres - , recebi uma carta de Waldemarque , como sempre acontece quando se lembram de escrever-me , só maiores amuos me veio dar 

.



Sem dúvida sabe o Senhor que - - - por motivos que ignoro e que não desejo mesmo saber porquanto o fundo de tudo é um e único - - - ele não está mais morando em casa de 

Eurico e daí ter descoberto que não pode continuar na casa , que está trabalhando aborrecido , amolado , etc etc , enfim a mesma choradeira que conduz ao ponto em mira Vir 

embora , e evidenciando a mais absoluta falta de , já não digo inteligência , mas do mais elementar bom senso , - " achar que eu não terei dificuldades em colocá-lo muito 

regularmente " Isso , francamente é demais , tanto mais quanto a menos de um mês fiz-lhe ver em carta a minha situação e o dinheiro que acabava de perder estupidamente na 

falência da Fábrica de Tecidos Botafogo e outros maus negócios .



- - - - Se eu fosse ouvido e se de mim não se lembrassem só nas horas de querer , a saída agora , mal segundo entendo da carta , não se daria porque sempre fui



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de opinião que , tanto ele como o Edgard , desde que começaram a ganhar bem deveriam deixar a casa de Eurico e morarem fora , porquanto embora irmãos a posição lógica e 

sensata era de patrão para empregado e vice-versa ; bons dias boas tardes e nada mais .



Faço á Eurico - - embora sem saber o que se passou - - a justiça de crer que não ligará a mudança dele á sua posição no negócio , mas , como já lhe disse , o fim visado é 

muito outro ; é a vinda para o Rio ou mesmo para Petrópolis , muito embora para vegetar ou para nada fazer , o que afinal de contas não há de ser má coisa para não ter a 

inteligência bastante para ver dois palmos adiante do nariz .



Ainda mesmo que me fosse possível empregá-lo neste momento premente em que toda a gente que tem uma colocação se agarra a ela com dente s e unhas , e ainda mesmo que 

houvesse uma razão qualquer que me induzisse a assim proceder , o Senhor , tão bem ou melhor do que eu , conhece o casmurrismo do Waldemar , que constitue por si só uma 

dificuldade grande não só para o Comércio como para qualquer outra colocação . Basta dizer - - - e isto define o homem - - - que em São Paulo a não sei quanto anos , não 

tem o Waldemar um só amigo , um conhecido mesmo que seja . Dito isso - - de um empregado do Comércio - - está dito tudo .



TÍTULO DA CASA Recebi a sua carta e não mandei a procuração porque pensava subir sábado ; caso não possa fazê-lo no sábado próximo , mandarei a procuração na segunda ou 

terça-feira .



COZINHA Recomendo que faça o que for apenas INDISPENSÁVEL e pelo menos possível . A época é de não se gastar nada , nada .



Sem mais por hoje , vou rodar já que está ameaçando uma terrível carga d'água e trovoada .



Com Mamãe e o Dudy queira receber muitas saudades e abraços do filho sempre amigo gratíssimo ,