|:| Corpus Compartilhado Diacrônico: cartas pessoais brasileiras

|:| Célia Lopes {celiar.s.lopes@gmail.com} e Silvia Cavalcante {silviare@gmail.com}



|:| Carta 13-OC-19-04-1891

|:| Autor: Oswaldo Cruz

|:| Destinatário: Emilia

|:| Data: 19 de abril de 1891

|:| Versão modernizada

|:| Encoding: UTF-8



Jardim , 19 de abril de 1891



Estimada Miloca



Recebi a tua cartinha de 17 , hoje às 10 horas da manhã . Como sempre , meu anjo , tive alguns instantes de alegria . Folguei muito em saber que tinhas recebido as minhas cartas de 11 , 13 e 14 . Bem vês agora , adorada Miloca , que eu não sou nenhum ingrato , que não tinha esquecido de ti nem tão pouco tinha rompido com o trato que fizemos ; bem te dizia , meu anjo , em uma das cartas passadas , que o tempo havia de me justificar ; já estou justificado . Tu me pedes perdão por me teres chamado de ingrato ? oh , Miloca , tu sabes que estou sempre



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pronto , de braços abertos , para te perdoar por qualquer culpa seria , quanto mais por uma culpa imaginária com esta ; exijo tão somente um beijo bem demorado . Minha Miloca o que teu Pai te escreveu é a expressão da verdade ; mas como tu queres que eu revolva todos os dias com um ferro incandescente a ferida dolorosa de meu coração ? como queres que eu vá ao banho de mar para reviver em minha imaginação aqueles momentos felizes em que passávamos juntos ? Não , minha Miloca , falece-me a coragem , não sejas tão cruel , minha noiva , tem piedade de mim . Durmo muito , muito para afogar a minha dor , para que os dias diminuam , para que o tempo passe sem eu sentir e para que mais próximo fique o feliz dia em que nos tornaremos a ver .



Eram 2 horas , estava eu escrevendo em meu quarto quando entrou chilreando pela janela um



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mimoso colibri ; com certeza , meu anjo foi um mensageiro que mandaste a mim , não foi ? Tu perguntas pela Fivinha ? Coitada , está doida . Outro dia quando voltei do Vidigal com teu Pai , encontrei-a naqueles trajes de banho , sentada no muro da rua , na ocasião em que passavam os operários da fábrica ; mais tarde quando voltei para casa estava ela sentada na calçada de casa da Amelia , no meio de trabalhadores que capinavam a ladeira . Isto não é de doida ?



Mamãe está hoje com uma formidável dor de cabeça , todos mais vamos bem de saúde , porém com o coração oprimido pela saudade .



Papai , Mamãe e Sinharinha mandam muitas lembranças a ti e a tua boa mãe a quem eu peço que me recomendes muito .



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Adeus , anjo querido , pede a tua boa Mãe para voltar e aceita um milhão de beijos e carícias de quem orgulha-se em ser



teu noivo



Oswaldo .