A difusão de formas pronominais em português: novos dados e perspectivas da Sociolinguística Histórica para a constituição de corpora digitais

Coordenação:  Célia Regina dos Santos Lopes (UFRJ/CNPq/FAPERJ)

Descrição: O projeto se propõe a analisar a mudança no sistema de tratamento no português brasileiro (PB) e no europeu (PE), conjugando a descrição sociohistórica do uso de formas pronominais em documentação remanescente com a edição filológica de novas fontes documentais. A proposta é incorporar novas cartas brasileiras e portuguesas que estão sendo editadas, seguindo o protocolo do programa E-dictor utilizado pelo projeto Tycho Brahe, coordenado pela Prof. Charlotte Galves (Unicamp). Para o PE, tem-se atualmente um fundo bastante representativo com mais de 150 cartas inéditas escritas no contexto da imigração portuguesa para o Brasil (1940-500) (cf. CARDOSO, 2020). Para o PB, há mais de 100 cartas particulares produzidas entre 1950-99 que serão editadas no mesmo formato. Nos dois casos, o material, fonte para os estudos linguísticos, será publicado no nosso site https://histling.letras.ufrj.br/. Adotam-se os pressupostos da Sociolinguística Histórica (CONDE SILVESTRE, 2007) e discute-se a pertinência do conceito de redes sociais para explicação da mudança (BERGS, 2005). Quanto à análise linguística, quer-se verificar se as cartas de portugueses da região Norte (Viseu e Aveiro) apresentam mais ocorrências de você, do que se detecta em outras áreas de Portugal, como mostram Guilherme e Bermejo (2015). Pretende-se ainda observar se (i) os paradigmas canônicos de tu (tu-te-ti/contigo-teu) e de você (você-o/a- /a/para você-si/consigo-seu), descritos por Raposo (2013) para o PE, são detectados nessas cartas portuguesas de (semi)letrados, e se (ii) o paradigma pronominal híbrido/misto do PB já se faz notar nas cartas brasileiras do século XX, a serem incorporadas ao projeto. Quanto ao acervo digital, pretende-se criar no site do projeto um sistema de buscas para facilitar o levantamento automático em função dos perfis externos dos remetentes (local/ano da carta, gênero, idade, relação com destinatário, grau de habilidade com a escrita).

Financiamento: FAPERJ e CNPq.


O sujeito nulo na história do Português Brasileiro: uma mudança encaixada

Coordenação:  Silvia Regina de Oliveira Cavalcante (UFRJ)

Descrição: O Português Brasileiro caracteriza-se por ser uma gramática de ordem Verbo- Sujeito restrita a construções inacusativas e de inversão locativa. A VS restrita no PB parece estar associada a propriedades de língua de sujeito nulo parcial: o sujeito nulo de terceira pessoa pode ter um referente genérico ou arbitrário (Galves, 1998; Duarte, 2018). A explicação formal para tal propriedade recai no fato de no PB o T(ense) ser defectivo, e, assim, os traços- phi de Pessoa são checados nos pronomes (donde, os altos índices de sujeitos pronominais plenos) ou são checados na posição de sujeito (Spec, T), e isso explicaria a existência de sentenças com tópico-sujeito (Essas janelas batem vento). O presente Projeto pretende analisar a evolução do sujeito nulo pronominal de terceira pessoa em cartas pessoais de missivistas brasileiros nascidos entre o final do século XVIII e final do século XX, relacionando-a com a evolução da ordem VS (em relação a SV), que já foi feita em projeto anterior (Cavalcante, 2016). Para tanto, temos como objetivo específico analisar a evolução dos sujeitos pronominais ao longo do tempo em uma amostra de cartas pessoais que compõem o Corpus Histórico da Língua Portuguesa (Corpus HistLing), organizado por Celia Lopes (UFRJ). Como objetivos gerais, pretendemos contribuir para os estudos sobre a sintaxe do PB, principalmente no que tange às mudanças microparamétricas que envolvem a estrutura da sentença, a posição e a expressão do sujeito na diacronia do PB.


História social, contato linguístico no Brasil-colônia e alfabetização tardia – contribuições para a história da sintaxe do português brasileiro

Coordenação: Maria Eugenia Lammoglia Duarte (UFRJ-CNPq)

Descrição: O projeto, em uma segunda fase, continua as análises contrastivas de variedades do português com base em peças de teatro brasileiras e portuguesas. Em cooperação com o Projeto Para a História do Português Brasileiro e Histling, foram desenvolvidas análises contrastivas PE-PB com base em peças de teatro concluídas a partir de 2013, sobre inúmeros fenômenos variáveis no português. Mas recentemente, tiveram início estudos longitudinais, a partir das peças de dois dramaturgos longevos. à luz de dados da história social, o lisboeta Luiz Francisco Rebello (1924-2011) e o carioca Millôr Fernandes (1923-2012). Nascidos e falecidos em anos quase idênticos e com grande produção teatral, os dois autores nos permitirão analisar seu percurso em relação aos fenômenos já estudados na ampla amostra de peças de que dispomos, ao longo da segunda metade do século XX, período em que se nota uma mudança no PB, que se distancia do PE. O objetivo é verificar (a) se a mesma estabilidade observada nas peças de autores portugueses reunidos em nossas amostras pelos períodos em que suas peças foram escritas, se mantém nos estudos longitudinais e (b) quando os autores brasileiros finalmente escapam da “gramática da escola”, de inspiração lusitana, e assumem a gramática do PB em suas peças, Esperamos ainda (c) mostrar que não há uma mudança na gramática do PB na segunda metade século XX, mas o abandono da gramática lusitana usada pelos autores brasileiros, que passariam a assumir uma gramática brasileira; o autor português, por outro lado, que usa a mesma gramática que adquiriu como L1, manterá a estabilidade nos fenômenos estudados. Assim, nossa hipótese é que o brasileiro, depois de usar, ainda que moderadamente, a gramática da escola, parcialmente presente nos textos dos anos 1950, vai, aos poucos, assumir sua primeira gramática, já adquirida antes da exposição à gramática da escola.

Financiamento: CNPq.

Topo